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Os Dias que Não Terminavam

Eu, Hunca fui de seguir caminhos retos. Quando entrei na Universidade Federal de Minas Gerais para estudar Filosofia, já sabia que aquela não seria uma jornada comum. Minha cabeça fervilhava de perguntas que nenhum professor parecia disposto a responder, e minhas noites eram ocupadas por discussões intermináveis em bares baratos, onde o chopp era ruim, mas as ideias, intensas.

Primeiro Ano: O Despertar do Caos

No início, tentei me encaixar. Frequentei as aulas, anotei os conceitos dos grandes pensadores, levantei a mão para falar. Mas algo não se encaixava.

— “Zucula, você questiona demais”, disse-me o professor de Metafísica, após eu desafiar sua interpretação de Heidegger.

— “Não é esse o ponto da Filosofia?”, respondi, genuinamente confuso.

Ele suspirou, como se eu fosse um caso perdido.

Foi quando conheci Dora, uma estudante de Letras que fumava cigarros de palha e citava Clarice Lispector como se estivesse rezando. Nossas conversas duravam até o amanhecer, e foi com ela que entendi que as respostas que buscava não estariam nas apostilas, mas na vida.

Segundo Ano: A Revolta e o Vinho Barato

Abandonei metade das disciplinas. Em vez de ir às aulas, passava dias na biblioteca, lendo Nietzsche, Dostoiévski e Cortázar em sequência, como se estivesse me preparando para uma guerra que só eu sabia que existia.

Meus pais, é claro, ficaram desesperados.

— “Horacio, você vai ser expulso!”, minha mãe gritou ao telefone.

— “Talvez seja necessário”, respondi, calmamente.

Foi nessa época que comecei a escrever. Textos confusos, cheios de raiva e beleza, que publiquei em um blog obscuro. Para minha surpresa, algumas pessoas leram. Algumas até me entenderam.

Terceiro Ano: O Abismo (e a Luz)

Reprovei em três matérias. Meu orientador me chamou para “uma conversa séria”.

— “Zucula, você tem potencial, mas insiste em nadar contra a corrente.”

— “Professor, nadar a favor é chato demais.”

Ele riu, contra sua vontade.

No final desse ano, Dora foi embora. Conseguiu uma bolsa na França e partiu sem olhar para trás. Eu fiquei. Bebi muito. Escrevi mais ainda.

Último Ano: A Despedida que Não Houve

Quando finalmente me formei (por algum milagre burocrático), não fui à colação de grau. Em vez disso, peguei um ônibus para Ouro Preto e passei três dias vagando pelas ruas de pedra, bêbado de saudade e descoberta.

Hoje, sou professor em uma escola pública. Meus alunos não sabem quem foi Heidegger, mas sabem que a vida dói e que as perguntas valem mais que as respostas. Às vezes, penso em Dora. Às vezes, rezo para que ela também se lembre de mim.

E nos fins de tarde, quando o sol se põe atrás dos prédios, ainda sinto o mesmo frio no estômago daqueles dias na universidade. A diferença é que agora eu sei: o vazio é onde tudo começa.

Grupo de Estudantes

Este post foi escrito por um dos integrantes do 4.º grupo

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