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A Última Xícara de Café

Eu nunca achei que seria o tipo de pessoa que vira lenda na faculdade. Mas foi assim que me tornei conhecido como “o cara da máquina de café” no Instituto de Ciências Sociais.

Tudo começou no segundo semestre, quando percebi que a máquina de café do corredor era uma arma poderosa. Ela funcionava quando queria, e só eu conhecia o ritual exato para fazê-la cuspir um líquido que sequestrava o cansaço por pelo menos duas horas. Virou meu território. Minha religião.

O Primeiro Ano: Sobrevivência e Café Instantâneo

Cheguei cheio de ideias brilhantes e saí do primeiro mês com olheiras e uma dependência química em cafeína. Minha colega de classe, Luiza, me encontrou às 3 da manhã na biblioteca, rodeado de livros e xícaras vazias.

— “Você vai morrer antes da primeira prova”, ela disse, arrancando o quarto café da minha mão.

— “Melhor morrer tentando”, respondi, já com a voz acelerada pela overdose de estimulantes.

Foi ela quem me apresentou ao “café da Dona Maria”, um boteco perto da faculdade onde o expresso era forte o suficiente para ressuscitar mortos. Dali em diante, virou nosso quartel-general.

Segundo Ano: A Máquina e a Rebelião

A máquina do corredor quebrou em plena semana de provas finais. Foi o caos. Alunos desesperados vagavam pelos corredores como zumbis. Foi quando eu, movido por uma mistura de solidariedade e desespero, inventei o “Clube do Café”.

Montei um esquema de improviso com uma cafeteira velha que encontrei no laboratório de química. Em troca de um café, as pessoas traziam algo — um biscoito, um resumo, um abraço (sim, teve gente tão desesperada que pagou com afeto).

O professor Almeida, um sociólogo austero, nos flagrou montando o esquema na sala vazia.

— “Isso é contra as regras”, ele disse, sério.

— “Professor, Marx já disse que a revolução vem de baixo”, eu retruquei, segurando a cafeteira como uma bandeira.

Ele riu, pegou um café e virou nosso primeiro cliente VIP.

Terceiro Ano: O Café Virou Sangue

No meio da pesquisa de TCC, descobri que café não sustenta mais ninguém. Luiza começou a trazer sanduíches, o Ricardo aparecia com energéticos, e eu, bem, eu já não dormia há três dias.

— “Você tá parecendo um vampiro”, Luiza comentou, me empurrando um pão de queijo.

— “Se vampiros bebessem café em vez de sangue, talvez fossem mais produtivos”, murmurei, digitando furiosamente.

Foi nessa época que a máquina oficial do corredor voltou a funcionar. Ninguém ligou. O Clube do Café já tinha virado tradição.

Formatura: O Último Café

No último dia, antes da colação de grau, Luiza e eu ficamos até tarde na faculdade. Ela preparou um café na velha cafeteira, agora desgastada e manchada de tanto uso.

— “A gente devia levar isso pra vida”, ela disse, rindo.

— “Levar o quê? A insônia? A dependência química?”

— “Não. A arte de fazer algo do nada.”

Bebemos em silêncio. O café estava horrível, como sempre. Mas era nosso café.

Agora?

Hoje trabalho em um escritório chique, com uma máquina de café que faz dez tipos de bebidas diferentes. Mas toda vez que passo pelo Instituto, olho para aquele corredor vazio e me pergunto se ainda há alguém lá, lutando contra a máquina, fazendo história com uma xícara de café ruim e uma ideia absurda.

Porque no fim, a universidade não era só sobre livros e provas. Era sobre criar algo que ninguém mais vai esquecer

Grupo de Estudantes

Este post foi escrito por um dos integrantes do 4.º grupo

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